Vida, paixão, pindaíbas, estéticas abandonadas, estéticas corrompidas, retratos comuns, desejos.

sábado, fevereiro 10, 2007

Quando penso em suicídio ou Cigarros: sadomasoquismozinho de cada dia

(imagem editada por Thiago Raft)

Agora que sou um lumpen efetivamente, me pego sempre lembrando de Artaud e sua enquête surrealista: O suicídio é uma solução? Ele começa o texto dizendo que não, que é uma hipótese, em outro momento diz que nunca teve vontade de deixar de existir e sim de nunca ter existido, nunca ter caído nesse torvelinho de imbecilidades e desencontros, depois diz: gostaria de um suicídio que o devolvesse à vida. Para mim volta e meia tem se tornado uma curiosidade latente em resolver a questão. Aí ando pelo mundo procurando um lugar, nada vejo que me caiba. Lunes al sol. Aí tento aliviar a tensão trabalhando até as mãos abrirem-se em flor pra ver se é possível tolerar-me. Nada é possível. Talvez romper o asfalto como fosse arte pós-moderna, teve um japonês que fez coisa assim, mas tinha grana pra comprar a tela, esta exposta em alguma galeria famosa. Mas eu, que faço com meus pobres diabos aqui no peito? Saudade de dar gritos. Romper o asfalto ao som da clarineta calma de Bechet não seria má idéia. Onde há lugar no mundo?

Se me sinto ridículo pensando na auto-morte? É lógico. Ridículo, submisso, arrogante, absurdo, chantagista, prepotente. Aí me falam sobre as escolhas que fiz há anos atrás quando pensava que o mais importante do dia era aproveitar a vida nova, longe das misérias daquele monstro que me deu a vida. Já nem sei se devo agradecer ou cuspir-lhe a cara, ou pedir-lhe que me tire a vida já que me entregou assim pelas metades. Essa segunda-feira ao sol será difícil. O mais difícil talvez seja escolher entre continuar a luta pra manter-me vivo ou encerrar de vez essa brincadeira idiota de Deus. Garoto rico e mimado que faz questão de fazer-nos implorar suas migalhas.

Agora mesmo me ocorriam os cigarros. Malditos que larguei. Não, não são como nuvens de sonhos que timidamente flutuam no ar tentando ocupar esse vazio entre nós. São na verdade um rompante suicida, são eles as vontades de morrer, são eles a falta de coragem de matar-se. A fumaça é minha alma que vai se esvaindo pouco a pouco. Mesmo quando há alguma graça na vida. Os cigarros preenchiam em mim meu frenesi suicida, meu sadomasoquismozinho de cada dia.

Quando penso em matar-me. Escuto as frases criativas de Coltrane, as libidinosas de Bechet, as graciosas de Waller, e os frenesis de Parker. Matar-se escutando esses gênios cheios de vida é impossivel. Eles acabam me convencendo que vale a pena viver nem que seja somente para escutá-los e senti-los.

Quando penso em matar-me penso em culpar a deus por tudo isso. Mas do que adiantaria? Deus já é culpado. Deus, não o que da a vida, mas aquele da moral cristã que nos estabelece padrões, que nos corrompe nos estimulando resignação, e que nos quer acreditar que é possível uma vida perfeita e indolor, a vida dói, uma raio de sol pode ser um paraíso e uma morte lenta e dolorida, a vida dói.

Lembro-me agora que não vou morrer como Remi fugindo dessas Invasões Bábaras, nada de passar essa Segunda-feira ao sol. Maldito seja aquele que na mão dos homens colocou dinheiro, fez de nosso suor um escravo, tirando toda a poiésis do labor e nos infringindo toda sorte de pragas de um tripalium. O movimento das minhas mãos não vale um real, meu labor é meu e o valor dele só pode e deve estar na multiplicação da vida.

Penso ao final deste texto reescrito meses depois, que realmente o preço que pago é muito alto por perseguir meu labor, mas como sou feliz por não ser um Ivan Ilith.

7 comentários:

Anônimo disse...

nunca mais te peço um cigarro numa madrugada chuvosa e maço no fim... agora entendi!

Marilia Kubota disse...

nossa, eu gostei disto...nao se mate, escreva. beijo

Marilia Kubota disse...

nossa, eu gostei disto...nao se mate, escreva. beijo

Marilia Kubota disse...

nossa, eu gostei disto...nao se mate, escreva. beijo

Unknown disse...

Como uma típica covarde penso nas palavras de Cioram quando fala do incoveniente de havermos nascido. Desde que nasci penso nisso e um certo sexto sentido me impede de executar o ato final, aquela sensação de que alguma coisa há por vir, inesperada, que valerá todo sofrimento vivido desde então. Mas mesmo diante de esporádicos momentos que me dizem:"caralho alguma coisa saiu errado pq deu certo" lembrom-me de meu amado pessimista citado acima "Não posso contemplar um sorriso sem ler nele: "Olhe-me pela última vez". Mas amigo, sério, não se mate. Siga sa recomendações do sábio Baudelaire:

EMBRIAGAI-VOS

É necessário estar sempre bêbedo.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:
É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.

Portanto, amigo, não nos matemos enchamos a cara.
Abraços.
Geo

Cami Silveira disse...

sincero demais por isso tão belo! adoro quando as pessoas conseguem traduzir seus sentimentos em palavras tão belas e envolventes, tuas palavras me envolveram, poderia ser um capítulo de um livro carregado de lirismo e de um conteúdo filosófico intrínseco. gosto quando outros, assim como eu, se sentem angustiados com a mundo e não pertecente a ele, porque descobrimos que os valores que nos embutiram é hipoctra e temos que conviver com isso diariamente. às vezes nos esquecemos e às vezes queremos acabar com isso.
Gostei das palavras de Jeane e do poema. a única forma de se livrar disto é se embriagar de arte e alcool.

Anônimo disse...

pensei em algo a dizer mas só me vêm palavras e frases vãs...