Vida, paixão, pindaíbas, estéticas abandonadas, estéticas corrompidas, retratos comuns, desejos.

quarta-feira, abril 04, 2007

Águas de Março


Estava sentado na beira do porto pensando nas águas de março que não fecharam o verão. Na clara ausência de esperança. Nos filhos que não poderei ter. Nas águas do território brasileiro que já estão por de mais poluídas. E pensando principalmente nesses lugares onde a água virou ouro. Os banqueiros e os trilhões seguem inabaláveis. Na nossa guerra civil. O que pensar diante dos fatos? Acabo pensando na morte da poesia. No lirismo de escritório. Tenho saudades de quando não havia pecado abaixo da linha do equador. Tenho um bruta nó aqui no peito e uma vontade constante de não fazer mais nada e me plantar aqui do lado da vitrola com uma garrafa de qualquer coisa e escutar todos os meus discos, ir ao banheiro vomitar, dormir e repetir a via até nunca mais acordar. Tenho um puta desassossego aqui no peito, e não é plágio do Pessoa nem do Caio Fernando Abreu mas já tentei de tudo: psicanálise, sexo, drogas, pequenas vinganças, entorpecimento cinematográfico entre outras balelas e só sobra esse nó no peito como espectro e vario. Acreditar em deus agora poderia ser uma ótima saída se eu não me revoltasse contra indecente e pecaminosa passividade diante da crueldade.
E lá vou eu, escovar os dentes, fazer a barba e dar uma banda por aí pra paquerar: quem sabe o amor não me salve disto tudo e ainda me leve além? Que amor? Só vejo pessoas como eu tentando curar seu desamor por si, diário e insistente. Tentando reinventar suas almas tristes e cheias de desesperanças.
E os “abraços gratuitos” chamados FREE HUGS me parecem tão falsos.
Eu aqui no meu cantinho vou escutando meus discos, estudando, escovando os dentes, fazendo a barba, cortando o excesso dos pentelhos que crescem no saco, lavando a remela pela manhã, assistindo todos esses filmes bobos dos americanos, assistindo filmes delicados e cheios de coração como Lunes al sol, Gosto de cereja, Sexo por compaixão, Litle miss sunshine, e sigo pensando nas crianças e no amor que sou incapaz de levar a elas, porque as águas de março em 2007 não fecharam o verão.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

ou

Quando se pode rir, goza.
Quando não se pode:
se cala ou se goza.

Quando se pode ir, estrada.
quando não se pode:
se fica ou se estrada.

se pode cantar:
acompanha passarinhos.
se não pode ou se cala,
ou se berra aos ninhos.

Quando se pode, pode.
Se num pode, se sacode,
e num fode.

domingo, fevereiro 18, 2007

sábado, fevereiro 10, 2007

Quando penso em suicídio ou Cigarros: sadomasoquismozinho de cada dia

(imagem editada por Thiago Raft)

Agora que sou um lumpen efetivamente, me pego sempre lembrando de Artaud e sua enquête surrealista: O suicídio é uma solução? Ele começa o texto dizendo que não, que é uma hipótese, em outro momento diz que nunca teve vontade de deixar de existir e sim de nunca ter existido, nunca ter caído nesse torvelinho de imbecilidades e desencontros, depois diz: gostaria de um suicídio que o devolvesse à vida. Para mim volta e meia tem se tornado uma curiosidade latente em resolver a questão. Aí ando pelo mundo procurando um lugar, nada vejo que me caiba. Lunes al sol. Aí tento aliviar a tensão trabalhando até as mãos abrirem-se em flor pra ver se é possível tolerar-me. Nada é possível. Talvez romper o asfalto como fosse arte pós-moderna, teve um japonês que fez coisa assim, mas tinha grana pra comprar a tela, esta exposta em alguma galeria famosa. Mas eu, que faço com meus pobres diabos aqui no peito? Saudade de dar gritos. Romper o asfalto ao som da clarineta calma de Bechet não seria má idéia. Onde há lugar no mundo?

Se me sinto ridículo pensando na auto-morte? É lógico. Ridículo, submisso, arrogante, absurdo, chantagista, prepotente. Aí me falam sobre as escolhas que fiz há anos atrás quando pensava que o mais importante do dia era aproveitar a vida nova, longe das misérias daquele monstro que me deu a vida. Já nem sei se devo agradecer ou cuspir-lhe a cara, ou pedir-lhe que me tire a vida já que me entregou assim pelas metades. Essa segunda-feira ao sol será difícil. O mais difícil talvez seja escolher entre continuar a luta pra manter-me vivo ou encerrar de vez essa brincadeira idiota de Deus. Garoto rico e mimado que faz questão de fazer-nos implorar suas migalhas.

Agora mesmo me ocorriam os cigarros. Malditos que larguei. Não, não são como nuvens de sonhos que timidamente flutuam no ar tentando ocupar esse vazio entre nós. São na verdade um rompante suicida, são eles as vontades de morrer, são eles a falta de coragem de matar-se. A fumaça é minha alma que vai se esvaindo pouco a pouco. Mesmo quando há alguma graça na vida. Os cigarros preenchiam em mim meu frenesi suicida, meu sadomasoquismozinho de cada dia.

Quando penso em matar-me. Escuto as frases criativas de Coltrane, as libidinosas de Bechet, as graciosas de Waller, e os frenesis de Parker. Matar-se escutando esses gênios cheios de vida é impossivel. Eles acabam me convencendo que vale a pena viver nem que seja somente para escutá-los e senti-los.

Quando penso em matar-me penso em culpar a deus por tudo isso. Mas do que adiantaria? Deus já é culpado. Deus, não o que da a vida, mas aquele da moral cristã que nos estabelece padrões, que nos corrompe nos estimulando resignação, e que nos quer acreditar que é possível uma vida perfeita e indolor, a vida dói, uma raio de sol pode ser um paraíso e uma morte lenta e dolorida, a vida dói.

Lembro-me agora que não vou morrer como Remi fugindo dessas Invasões Bábaras, nada de passar essa Segunda-feira ao sol. Maldito seja aquele que na mão dos homens colocou dinheiro, fez de nosso suor um escravo, tirando toda a poiésis do labor e nos infringindo toda sorte de pragas de um tripalium. O movimento das minhas mãos não vale um real, meu labor é meu e o valor dele só pode e deve estar na multiplicação da vida.

Penso ao final deste texto reescrito meses depois, que realmente o preço que pago é muito alto por perseguir meu labor, mas como sou feliz por não ser um Ivan Ilith.

sábado, janeiro 06, 2007

DESTEMIDA



Deito na cama
e pra cima de mim, mia
rosnando no ouvido,
enquanto esqueço o amargo do dia

Acomoda-se sobre a barriga
seu bigode colado na minha cara erguida

Às vezes me lambe

E eu, desprevenida,
não temo uma mordida,
afinal felinos não são como alguns homens

30/11/04

Ligia Maria

Blog Omelete de Lichia
http://omeletedelichia.blogspot.com/


Esse é o blog que estou esperando um tempão.
Na verdade a Ligia só enrrola pra mostar essas maravilhas.
Esse foi o primeiro que vi logo que ela o fez. O desenho é dela tambem.
Dá pra acreditar que ela tem vergonha de mostrar? Acho que é pura vaidade.